30.8.22

Foice


Foi dar-se
sem face.
Deformou-se.
E ao cair,
torceu-se
até firmar-se certa.

Fosse só faca
(mas era foice).
Fosse só força
(mas era farsa).
Desfez-se como se pudesse
despedaçar-se.
Ingênua, como mata fosse
(a desmatar-se).

Foi dar-se tola
Como quem não lembrasse
Do que forca, torta,
(oca)
ou desesperar-se.
Feriu, falou, fugiu
(seu)
meu crescente azul
no teu minguante anil-
amanhecesse.

Foi sentir-se louca 
e a rir-se, foice
já sem perceber-se.
Dessa foz que foi-se,
Foi tece-descendo,
teu açu-descendo
no teu rio-corte.
Esse mar d'água doce,
ele fóssil (e eu nem fácil):
"faz-te te falta, amor,
as mãos e pés e a noite
por que quem te trouxe
fez-te amor em falso".

Meu tecido-tesão-de-seda,
teu embrulho-razão-de-sarja.
Por quem quer que eu te seja
meu desejo te farda
Esse botão que te acorda, amor
(concorda)
Mas não passa
duma foda mal dada.

E os retalhos-sorrisos
onde te encontro
na superfície áspera
da lembrança.
Qu'eu-nunca foice
nada mais que desfaça
tua esperança.

Foi-se posse e massa
Na pressa regra-do-impasse.
Dos meus dois desejos, peço
nada mais
que esses dois pedaços:
um que é doce, riso e forte,
e o outro, agudo e raso.

Mas se ele já-deus-e
à foice 
(quem sabe?)
não é mais meu próprio caso.
É porque quem for-te 
e se ele adeus-se certa,
meu controle é morte
(curto)
teu ou meu fracasso.